segunda-feira, 10 de abril de 2017

PROFISSÃO: PROFESSOR

Por que ser professor?

Antes de mais nada, é preciso ter consciência de que o professor contribui para a formação do caráter de muitas crianças e adolescentes, que serão os adultos de amanhã.

O foco aqui é a formação básica: de ensino fundamental e médio, onde essa contribuição é mais forte, mas professor é professor, e sempre de alguma forma estará influenciando o aluno.

É muita responsabilidade ensinar esses jovens, por isso a escolha dessa profissão deve ser muito bem avaliada, não pode ser escolhida por falta de opção, ou por garantia de emprego, mesmo que o salário não seja lá essas coisas....

O que o professor encontra nas salas de aula principalmente da rede pública, é algo que precisa ser bem conhecido, antes de decidir seguir esse caminho.

Salas de aula com muitos alunos, mais de 30, e muita diversidade de culturas, níveis de aprendizagem, alunos com deficiências físicas, intelectuais e dificuldades de aprendizagem, que representam a inclusão e a democratização do ensino, são alguns destaques.

Encontramos também, alunos que por vários motivos, não conseguem se concentrar nas aulas, e aparentemente, vivem para provocar os professores, ou fazer arruaça na sala de aula.

Dar aula para algumas turmas, que são consideradas as piores em termos de indisciplina e provocações, gera uma ansiedade muito grande no professor, e alguns deles, como já me relataram, rezam para entrar nessas salas.

Sem dúvida, é preciso muito equilíbrio emocional para lidar com isso...pois além de tudo, os professores para ter um salário melhor, precisam ter muitas turmas o que provoca um grande desgaste físico e emocional, podendo até desencadear numa forte depressão.

Atualmente, como voluntária do Projeto Escola Vida, dou aula em três turmas do oitavo ano, uma vez por semana, então para mim, é muito mais fácil pensar e defender o lado do aluno, pois afinal, esse trabalho que desenvolvemos é para fortalecê-lo, e ajudá-lo a ser um adulto responsável e ético, dentro de seu papel na sociedade.

Só para contextualizar, essas crianças estão completamente perdidas, não sabem o que fazer, como lidar com as situações da vida, muitas delas são agredidas de várias formas, não são respeitadas, nem ouvidas, e se não houver pessoas que as ajudem, que futuro que poderão ter?

Fica evidente, que a forma como o professor lidará com esses alunos, é que determinará o sucesso ou fracasso dessa caminhada.

Ser professor, antes de mais nada é assumir uma responsabilidade de interferir positivamente na vida desses jovens, que só uma forte convicção e muito amor, o fará desenvolver o trabalho de forma satisfatória.

Não existe milagre!

As crianças e adolescentes não são comportados, muito pelo contrário, são rebeldes, muitos deles são mal educados e agressivos.

Por qualquer motivo, já saem no tapa com os colegas, e muitas vezes desafiam o professor.

Os alunos não são bonecos, estão vivos, são extremamente agitados, não conseguem ficar quietos.

Eles recebem muitos estímulos fora da escola, e uma simples aula expositiva não irá atraí-los.

Concorrer com computador, internet, jogos eletrônicos, entre outros parece impossível...

Sabe aquela sala onde os alunos ficam sentados, imóveis e prestando atenção no que o professor fala?

Isso é coisa do passado! Não existe mais! A realidade é outra!

Essa é uma pequena amostra, do que os professores encontrarão na sala de aula.

Então, apesar disso ainda quer ser professor?

Se a resposta for sim, então me acompanhe nessa jornada!

Vamos descobrir juntos o que fazer para atrair a atenção dos alunos, fazê-los aprender e mais, torná-los autônomos no seu processo de aprendizagem e capazes de fazer boas escolhas em sua vida.

É um grande desafio, mas a realização de conseguir compensará todo esforço e dedicação.

Vamos lá, eles precisam de nós!












quinta-feira, 30 de março de 2017

ALGUNS PEQUENOS (GRANDES) PROGRESSOS

Hoje apesar da dificuldade que ainda encontro em dar aulas nos oitavos anos, posso dizer que estou encontrando um caminho satisfatório.

Procurando um meio de fazer com que os alunos se acalmassem e conseguissem focar na aula, começamos a aula com uma breve meditação, coordenada pela voluntária estagiária que está me acompanhando nas aulas.

Como estratégia, estou focando nos alunos que fazem bagunça e acabam atrapalhando a aula.

Faço uma abordagem direta, perguntando se está tudo bem, se posso prosseguir com a aula, se podem colaborar, coisas assim.

Percebo que chamar pelo nome ajuda muito, então uso esse recurso também.

Conversando com minha filha, que por ser mais jovem, ter tido a idade deles há pouco tempo e também por já ter dado aulas para adolescentes, ela me mostrou, que se esses alunos que fazem tanta bagunça quisessem faltar na aula, eles faltariam, pois já teriam autonomia para isso, e que se eles vão na aula, é porque querem estar lá.

- Mas por que fazem tanta bagunça? - peguntei.

Ela me disse que querem atenção, mais do que isso, precisam muito chamar atenção.

Refleti muito sobre o que ela me disse, e decidi aplicar isso em minhas aulas.

Uma hipótese, que vou procurar validar:  quem faz bagunça para atrapalhar a aula, precisa de muita atenção.

Partindo dessa hipótese,  na aula de hoje procurei valorizar os alunos bagunceiros, fazendo perguntas para eles, chamando-os pelo nome, olhando-os nos olhos e principalmente demonstrando que me importo com eles.

Na primeira turma do dia, foi um pouco difícil fazer a meditação, mas alguns alunos seguiram as orientações e fizeram, outros ficaram fazendo bagunça e rindo.

Depois comecei a dar minha aula, perguntando como sempre, o que se lembravam da aula passada, e alguns alunos falaram sobre o que lembravam, e isso ajudava os outros a se lembrar também.

Prossegui com a aula, e vi um aluno desses que fazem bagunça, deitado no chão, embaixo de sua carteira. Embora não fosse uma postura adequada para um aluno, ele não estava atrapalhando ninguém, e estava quieto, e na verdade eu só percebi que estava assim, porque uma aluna, que também é muito bagunceira, veio me dizer como ele estava.

Eu lhe disse que cada um deve cuidar de sua vida, e que ele poderia ficar assim, já que não estava atrapalhando.

Inconformada ela reclamou dizendo então que ficaria em pé sobre a cadeira e eu lhe disse:
- Tudo bem, fique então.

E ela ficou de pé, sobre a cadeira.

Eu continuei dando aula normalmente, até que ela se cansou e resolveu por vontade própria se sentar. Ponto para mim!

Durante essa aula, teve de tudo, até uma aluna tirando uma foto de um casal, em plena sala, sim acreditem se quiser...

De repente, me viro, e vejo essa aluna de pé, tirando foto de um casal também de pé no corredor entre as fileiras de cadeiras.

Me aproximei deles, e de uma forma firme falei para eles que na sala de aula não era lugar para tirar fotos, e que se quisessem tirar fotos que fossem para fora da classe.

Imediatamente o casal que esta posando para as fotos, resolveu se sentar, dizendo que não queriam tirar fotos, e consequentemente, a fotógrafa, também acabou se sentando. Ponto para mim!

Bom, antes de acabar a aula, eu perguntei baixinho para a garota que ficou de pé, se ela tinha gostado de assistir aula naquela posição, e ela me disse que não gostou. E eu concordei com ela, dizendo que também achava que não era legal aquela posição. Ponto para mim!

Grandes progressos nessa aula, não acham?

Consegui apesar de tudo isso, dar o conteúdo da aula, e ainda fazer alguns bons e produtivos questionamentos.

Final perfeito!

Na segunda turma, que é mais tranquila e dedicada, correu tudo bem, mas os questionamentos da primeira aula resultaram em melhores reflexões na minha opinião.

A terceira turma, cuja aula dou depois do intervalo, os alunos já vem muito mais agitados.

Aparentemente, é a turma onde tem os alunos com mais problemas e dificuldades e também a turma da qual a professora que me acompanha reclama mais.

Diante disso, estou ciente que preciso me dedicar mais, pois são os que mais precisam de atenção e ajuda...

Lembram do "B"? Ele é dessa turma. Por falar nele, querem sabem como ele está?

Muito bem! Escrevendo cada vez mais.

Procura sentar na primeira carteira, e hoje até me ajudou a mudar as imagens do projetor. Fez isso com um cuidado e dedicação, que me deu muita satisfação.

Totalmente atento na aula e respondendo prontamente minhas solicitações, apesar da bagunça que a sala se encontrava.

Dentro da atividade que fiz, pedi que me contasse a história e ele me contou com muitos detalhes e perfeição, que também me deixou impressionada.

Pedi então que escrevesse o que havia me contado. Ele disse que preferia contar do que escrever, mas insisti que escrevesse, e disse-lhe que estava indo muito bem na escrita, e que continuasse assim.

Ele atendeu meu pedido, e embora o sinal tenha tocado, e os alunos terem saído em disparada da sala, ele permaneceu, sozinho, e focado para terminar a escrita da história.

Mas o mais importante para mim, é que ele é um garoto muito inteligente, e tem muito potencial, e estaria sendo desperdiçado, por ter dificuldades com a escrita.

A professora disse-me que ele era difícil, mas concordou comigo que ele havia melhorado. Na verdade, acho que ela só se conscientizou de sua melhora, quando eu disse que ele estava escrevendo bem.

Isso costuma acontecer, o aluno recebe um rótulo, e mesmo mudando os professores não percebem essa mudança...e infelizmente não conseguem valorizar o progresso que esse aluno fez.

Para que a mudança se consolide, é muito importante que o professor perceba e valorize essa mudança.

Bom, eu notei a mudança de comportamento, desde a primeira aula, e agora na quarta aula que dou, consigo perceber um grande avanço, tanto em seu comportamento, como em sua escrita.

Isso é muito gratificante, não tenho palavras para descrever minha satisfação.

Mas tem mais, hoje a aula foi muito produtiva, e cheia de acontecimentos....

Tem um outro aluno, vou chamá-lo de P, que é alto, não consegue ficar quieto, mexe com todo mundo, e chega até a ser agressivo com os demais.

Logo que entrou na sala, esse aluno pegou a bolsa de uma garota e jogou em cima do armário.

A professora que me acompanha na sala ainda não estava lá, e quando vi isso, me aproximei dele e pedi com educação e firmeza que pegasse a bolsa e devolvesse para a dona.

Ele se esquivou de mim, e voltou para perto da garota. Eu fui atrás dele, olhei em seus olhos e novamente, pedi com educação e muita firmeza que pegasse a bolsa e devolvesse.

Desta vez, ele me obedeceu! Consegui o que pedi sem gritos, sem ameaças, sem castigo, sem broncas. Apenas com firmeza e educação. Ponto para mim!

Em seguida ele reclamou que a garota tinha sentado em sua carteira.

Eu lhe disse que viesse sentar-se na segunda carteira que estava disponível, atrás de B, e ele me obedeceu, sem questionar, nem reclamar. Ponto para mim!

Então fizemos a meditação, tendo basicamente as mesmas reações da primeira turma, e depois comecei minha aula.

Percebi que alguns alunos dessa turma, têm muita dificuldade, mas aos poucos iremos superá-las, afinal a atividade que estou fazendo com eles, é justamente para isso: desbloquear os alunos que tem dificuldades, melhorar a expressão oral, desenvolver o sentimento de competência e aumentar a autoestima.

Bom, pedi para o P, que escrevesse a história e ele disse que não tinha entendido nada. As imagens estavam projetadas na lousa, então pedi que olhasse e me contasse o que estava vendo.

Ele me contou a história com todos os detalhes e informações importantes, então percebi que ele havia entendido. E disse isso para ele, que ele havia me contado muito bem, que agora poderia escrevê-la.

Quando falamos em desenvolver o sentimento de competência, esse exemplo ilustra bem isso. Ele era capaz, mas não sabia. Quando peço para ele contar a história lhe mostro como entendeu e como se expressou bem, ele começa então a perceber que é capaz, e isso gera nele um sentimento de competência.

Deve ser muito difícil se achar competente, num ambiente onde não se é valorizado, muito pelo contrário, onde se é criticado e invalidado o tempo todo, isso é claro, na melhor das hipóteses, pois muitas dessas crianças, são totalmente ignoradas, e aprendem a se cuidar sozinhas...

No caso de P, ponto para nós!





quinta-feira, 23 de março de 2017

COMO DAR AULA NO MEIO DE TANTO BARULHO?

Hoje novamente, fui dar aula no projeto.

Tenho três classes de oitavo ano.

Dessas três, apenas numa é possível dar uma aula de qualidade.

Nas outras, o barulho é tanto, que acabo perdendo boa parte da aula, para pedir silêncio e poder dar a aula.

Para mim é um desafio dar aula para esses adolescentes, pois tenho que tornar a aula tão interessante a ponto de chamar sua atenção para aula.

Na aula passada, tive muita dificuldade, por nada do que eu fazia resolvia.

Essa semana, já fui mais preparada sabendo o que eu ia encontrar, e até providenciei um microfone que me ajudou bastante, pois quando o barulho estava muito eu amentava o volume do microfone e abaixava quando o barulho diminuía.

Uau! Teve até alguns instantes de silêncio geral!

Um avanço e tanto, não acham?

Se estão lendo isso com a esperança de que eu tenha uma resposta para essa dúvida, sinto decepcioná-los, mas não tenho ainda não resposta.

Estou na busca, e esse é meu grande desafio.

Quem tiver alguma sugestão, por favor compartilhe conosco através de comentários.

O que posso dizer, é que para essas crianças, é muito difícil prestar atenção e se interessar, pois são constantemente invalidados, além de terem celulares e computadores que são muito atrativos, então apenas ouvir uma pessoa falando e mostrando algumas imagens, não desperta muito interesse mesmo...

Então, vamos tentando alternativas, mas posso dizer que usar microfone foi uma ótima ideia.






quinta-feira, 16 de março de 2017

UM PEDIDO DE SOCORRO

Hoje retornei às aulas do Projeto Escola Vida.

Desta vez, peguei uma turma de 8º ano, que nunca tinha participado do projeto anteriormente.

Quando me dirigia para entrar na sala que estava com a porta fechada, vi à distância, um garoto batendo à porta.

Vou chamá-lo de B.

Ele devia estar pensando que tivesse alguém na sala, que pudesse abrir a porta para que ele entrasse.

Como não obteve resposta, já que não tinha mesmo ninguém na sala, ele começou a socar a porta com força, chutá-la e gritar para que alguém abrisse a porta.

Quanto percebi que o clima estava ficando mais quente, corri em sua direção, e falei para o garoto que não tinha ninguém na sala, que a professora responsável já estaria chegando, que ele aguardasse um pouco.

Depois olhei em seus olhos, e perguntei de uma forma bem carinhosa como ele estava, se estava bem ou se estava chateado com algum acontecimento.

Ele me disse que estava tudo bem.

Bom, ele e os demais alunos entraram na sala, e ele se sentou na última cadeira da última fileira.

Me apresentei, apresentei o projeto e dei minha aula.

No final da aula, como de praxe, pedi que fizessem um resumo da aula, acrescentando o que havia sido importante para cada um.

B me chamou e me disse baixinho que não sabia escrever.

Só para lembrar, estamos falando da 8ª série, e infelizmente, isso não é uma exceção.

Tenho a impressão de que se sentiu à vontade de me dizer isso, pela forma como o abordei, sem dar bronca ou criticá-lo.

Eu lhe perguntei se ele gostaria de aprender.

Ele me respondeu que queria muito.

Então, eu lhe disse que tentaria ajudá-lo.

Pedi que escrevesse o que pudesse na folha e ele me obedeceu, sem questionar.

Normalmente, as crianças que têm dificuldades, quase não escrevem.

Mas quando fui pegar sua folha, me surpreendi, pois ele havia escrito umas cinco linhas, e eu falei para ele em com um tom de muita surpresa e admiração:

- Olhe quanta coisa você escreveu!!!

Ele olhou para mim, e me deu um sorriso de satisfação, que será difícil eu esquecer...aquele sorriso valeu meu dia...

Bom... hoje dei outra aula para essa turma, e percebi algumas mudanças em B.

Ele entrou calmamente na sala, e pediu para sentar na primeira cadeira, próxima da minha mesa.

Eu disse que poderia usar a minha mesa para escrever, se ele quisesse.

Então na primeira oportunidade, disse que havia lido o que ele tinha escrito na aula anterior e que havia gostado muito.

Ele me perguntou se não tinha muitos erros, e eu lhe disse que estava muito bom, que logo ele estaria escrevendo tudo, que continuasse assim.

Não preciso dizer que ele ficou muito feliz, né?

Na verdade, eu diria que ele ficou radiante.

O que teria acontecido, se ele tivesse levado bronca por ter chutado a porta?

O comportamento pode mudar, se a criança sentir que é respeitada e valorizada pelo que ela é.

Compartilho abaixo, a redação que B fez (clique na imagem para ampliar).

E posso dizer, que embora tenha alguns erros, o que ele tentou dizer tinha muito a ver com o conteúdo que foi dado na aula, então concluo que ele teve um bom entendimento, o que é muito importante para mim.